Q&A: 1 Corintios 15:29 e Batismo pelos Mortos

Pode a gente ser salvada depois da morte pelos vivos serem batizados pelos mortos?

Texto - Publicação: Maio 2015

Autor(es)/Autora(s): Paul Larson

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Dr. Larson,
no livro de 1 Coríntios 15 versículo 29 diz: Se não há ressurreição, que farão aqueles que se batizam pelos mortos? Se absolutamente os mortos não ressuscitam, por que se batizam por eles?

Este versículo tem me gerado dúvidas, sobre o que realmente Paulo quis dizer. Em uma pequena pesquisa, pude descobrir que os mórmons usam este versículo como parte de sua doutrina afirmando que “Sendo que o batismo é essencial para a salvação e que muitos morreram antes da restauração da igreja por Joseph Smith, é essencial que os vivos sejam batizados pelos mortos que faleceram sem o conhecimento do Evangelho. Esse batismo por imersão, realizado pelo morto é creditado em seu registro como se fosse realizado por ele mesmo”.

Porém lendo todo o capítulo 15 observei que Paulo o escreveu para as pessoas que não criam na ressureição. Sei que esta carta, Paulo a escreveu em Éfeso, perto do fim de seu ministério nesse lugar. Durante aproximadamente 18 meses, Paulo esteve em Corinto estabelecendo uma grande igreja. Após sua partida dessa cidade, surgiram múltiplos problemas e a finalidade dessa carta era ajudá-los para que esses fossem solucionados. Acredito que um desses problemas foi sobre a ressureição. Porém não acredito que os vivos tenham que ser batizados para que os mortos sejam salvos ou batizados, pois o batismo é a procissão de nossa fé em Cristo, nossa fé individual, (1 Pedro 3:21 e Rm 14.12). Então o que realmente o apóstolo Paulo quis dizer neste versículo? Porque a menciona se não pensou nessa forma?

Rayanne

Brazil. Recebido Dezembro 2014.

Olá, Rayanne! Lhe agradeço pela sua pergunta. Esse versículo sobre qual você tem feito sua pergunta é um das difíceis passagens nas escritas do apostolo Paulo, e uma que levanta perguntas em mentes de pessoas como você que querem entender a palavra de Deus. Dentre comentadores, a passagem tem recebido uma variedade de explanações, mas antes de olhar algumas das explanações, há algumas considerações que precisam ser ouvidos.

Primeiro, é uma regra general em interpretação de textos que um autor deve ser seu intérprete. Isso não significa que um autor não pode mudar sua mente, nem que um autor não pode ser inconsistente, e em interpretação do autor, o autor mudando sua mente ou sendo inconsistente é uma possibilidade. Mas normalmente nós precisaríamos ter evidência para pensar assim. O costume normal e justificado é assumir que um autor é consistente e não mudar sua mente sem evidência nessa direção. A evidência teria que ser até mais forte se uma interpretação possível de um texto especifico desse autor é contrario a uma ênfase forte do autor na maioria da sua vida.

Aqui é onde nós encontramos um problema com uma interpretação possivel de 1 Cor. 15:29. O apostolo Paulo não condena o batismo pelos mortos em 1 Cor. 15:29, e, como você observeu, isto tem sido usado por mórmons em favor da prática de batismo pelos mortos. Mas é também onde nós precisamos considerar a discordância entre essa prática e uma ênfase central no ministério do apostolo Paulo. Ele fortemente enfatizou que salvação é pela graça através da fé, não por obras; isto significa que salvação requer uma resposta ao evangelho da pessoa relevante, e no pensamento de Paulo, batismo é algo recebido por aqueles que tem respondido ao evangelho e recebido o espirito (olhe Romanos 6:3-4 e Gálatas 3:27). Portanto, para Paulo, uma pessoa que não tem respondido ao evangelho na terra não deve ser batizada fisicamente, e nós não temos razão pensar a mente de Paulo mudaria se alguem tinha morrido. Na terra, não há nenhuma conexão entre um ato de pessoa A e uma resposta (ou falta de resposta) de pessoa B ao evangelho. Se pessoa A fosse batizada na terra (ou obtesse um emprego ou fizesse uma caminhada ou etc.), esse fato não significaria nada quanto a pergunta se pessoa B tivesse respondido ao evangelho na terra; não é boa razão pensar que seria diferente se pessoa B fosse morta. Portanto, a ênfase de Paulo sobre salvação por graça através de fé é evidência forte contra pensar que Paulo teria aceitado uma prática de batismo pelos mortos como algo que teve efeito salvifico e contra pensar que a interpretação de 1 Cor. 15:29 por mórmons. A ideia que ele está aceitando um batismo que teria algum efeito quanto à salvação de mortos é um tipo do sacramentalismo que não concorda com a ênfase de Paulo sobre salvação por graça através da fé.

Segundo, uma olhada a outros textos no Novo Testamento e textos escritos depois do Novo Testamento mostra uma falta notada da prática na igreja primitiva. Não há nenhum traço da pratica no resto do Novo Testamento, não há nenhum traço desse batismo em outras igrejas da época do Paulo nem no comunidade ortodoxa cristã no dois séculos que seguem, porem foi encontrado entre Marcionistas no quarto século (olhe Crisóstomo Homilias 40), e não houve paralelos em religiões pagãos. Este sozinho é um argumento forte contra a interpretação de mórmons do versículo; fora de 1 Cor. 15:29, se o único traço histórico da prática foi entre um grupo limitado na franja dos que se chamam cristãos, e um grupo que foi reconhecido como herético entre pessoas na maioria da comunidade cristã, então é improvável que a interpretação de mórmons de 1 Cor. 15:29 é correta.

Terceiro, pode ser observado que no 1 Cor. 15:29, Paulo usa um pronome na terceira pessoa quando o costume de Paulo em falar sobre coisas feitas ou aceitadas dentro da comunidade geral é usar um pronome na segunda pessoa. Isso provavelmente reflete o fato que houve só uma parte da comunidade em Corinto que estava praticando batismo pelos mortos. Esta vista é fortalecida pelo fato que ambos antes (olhe versículos 12, 14, 16) e depois (olhe versículos 30, 34) de versículo 29, Paul usa a segunda pessoa. Como devemos pensar na mudança de pessoa gramática? Em versículo 12, observe que Paulo pergunta como alguns dos Cortinos dizem que não há ressurreição. Houve alguns que diziam que não haverá ressurreição de mortos, e alguns que acreditavam que seriam uma tal ressurreição. Que houve estes dois grupos encontra mais evidência no passo de terceiro pessoa em versículo 29 a primeira pessoa em versículos 30-32 a segunda pessoa em versículos 33-35. Tais mudanças apoiam a conclusão que os de versículo 29 são apenas alguns dos Corintos.

Quarto, neste contexto, mencionar o batismo pelos mortos de alguns dos Corintos foi parte da polêmica de Paulo contra os que negavam a ressurreição de mortos. Na maioria do capítulo 15, Paulo está dando diferentes considerações em favor da ressurreição de mortos. Ele o está fazendo a uma comunidade já tendo discordância sobre esse assunto exato, e essa discordância explica muita da razão que Paulo está dando tais considerações. As pessoas relevantes de versículo 29 não acreditavam que pessoas simplesmente param de existir quando morrem. Se eles tinha pensado assim, não seria razão ser batizados pelos mortos, e, visto que a diferencia entre os grupos nesse caso seria sobre o fim ou continuação de existência quando pessoas morrem, o ponto de versículo 29 seria que os advogando que não haverá uma ressurreição estão aceitando uma pratica errada, uma pratica que não tem nenhum efeito, e que eles, portanto, não devem ser acreditado quanto á ressurreição.

Mas parece que isso não foi o que realmente aconteceu. Antes, tais pessoas provavelmente acreditavam que o batismo teve um efeito salvifico quanto ao estado da existência de mortos, mas que esses mortos não seria ressuscitados. Mas observe que esta situação é diferente da crenças de mórmons. Mórmons acreditam que haverá uma ressurreição de mortos; Paul estava argumentado contra pessoas que acreditavam que não haverá uma ressurreição de mortos. O propósito de Paulo não foi aprovar ou refutar a prática de batismo pelos mortos, mas argumentar contra a negação de ressurreição de mortos. Ora, esta conclusão ainda deixa aberta a pergunta se o batismo pelos mortos foi algo que Paulo aceitou, porem as palavras acima mostram que é improvável que Paulo o aceitava como algo que teve efeito salvifico. O ponto aqui é que o texto não nos requer pensar que a menciona do batismo pelos mortos foi também uma aprovação da prática de batismo pelos mortos.

Ora, porem 1 Cor. 15:29 não deva ser considerado evidência significante em favor da prática de mórmons de batismo pelos mortos, ainda resta a pergunta sobre a significação do versículo. Uma possibilidade, a possibilidade possivelmente a mais natural, é que alguns Corintos realmente praticavam um batismo pelos mortos que eles pensaram teve um efeito salvifico e que Paulo, porem não concordando que a prática teve efeito salvifico, decidiu menciona-la sem dar uma condenação da prática. Essa interpretação é possivel, mas levanta a pergunta porque Paulo não deu uma condenação de uma prática tão discordante com o seu evangelho. Nós já sabemos que só alguns dos Corintos praticava o batismo pelos mortos, e uma resposta à pergunta é que o tamanho desse grupo foi tão pequeno que Paulo não pensou que uma condenação foi precisa. Se essa resposta não parece suficiente, há algumas outras possibilidades.

Uma possibilidade é que 'batismo' é metafórico. Outras possibilidades tentam dar um sentido particular à palavra grega atrás de 'por', dizendo que a palavra significa que pessoas são batizadas acima de túmulos de mortos, que são batizadas com se a morte fosse diante dos seus olhos, que são batizadas com um visto na direção de morte, como se fizessem o batismo com a expectação de ver queridos mortos no futuro, que são batizadas com respeito a um sentido simbólico de morte, como se uma referência a morte, enterro, e ressurreição, ou que a preposição convem com o verbo 'fazer' e não o verbo 'batizar', como se a pergunta fosse o que pessoas fariam em favor de mortos no futuro. Uma terceira possibilidade tenta dar um sentido particular à palavra grega atrás de 'mortos', e uma quarta possibilidade oferece um entendimento diferente quanto pontuação do versículo. Possivelmente a pergunta seria o que os batizados fariam, e 'pelos mortos' seria parte da resposta ou parte de uma nova pergunta. Nenhuma destas outras possibilidades é bem convincente, porem. O pensamento que alguns dos Corintos praticaram um batismo vicário parece ter o mais evidência no seu favor, mas isso não significaria que Paulo concordasse com a prática, nem que o versículo desse muito apoio a interpretação de mórmons.

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